Cantidio Brasil

Cantidio é um pintor independente, alheio aos modismos superficiais. Caminha em sua própria trilha artística. Daí a originalidade da sua obra. Como os antigos ministuristas, suas pinceladas são minúsculos pontos de luz que lembram o vôo dos vagalumes. Os quadros são “pranchas” reduzidas de um gigantesco cenário onírico. Fantástico e fantasioso, Cantidio “fotografa” o sentimento dos maracatuqueiros, flutuando no sonho delirante do carnaval. As figuras são entronadas em altares como estivessem esperando a missa afro-católica ou algma solenidade exótica redentora. Figuras iconográficas remetem a uma espécie de aristocracia negra chegada aqui na bagagem saudosa dos escravos. Cantidio captura isso no seu mundo imaginário fértil e inesgotável. A dos da escravatura não conseguiu anular a alegria, o poder estético e místico religioso do negro. Isso está presente em sua obra preciosa. Parece que seus quadros surgem numa magia; não passam pelo processo plástico; talvez uma diáfona neblina do arco-íris deposita-se sobre as telas e cada gotícula de cor vibra de alegria porque foi transformada em arte. Chega-se até viajar na poesia.

Com suas pinturas, Cantidio avisa que a paz é possível dentro desse mundo hostil e confuso; que o vermelho não é sangue derramado; que o amarelo não significa o cobiçado ouro e que o céu não é somente para os azuis.

A cultura do maracatu no Ceará é diferente de outras regiões. Em todos os aspectos nosso maracatu é singular, na música, na dança, e na coreografia. Isso se dá graças à poderosa característica dessa dança dramática de herança africana.

Cantidio mergulha nas águas mitológicas dessa arte e funda o Maracatu Rei do Congo para colher inspiração destinada à sua encantadora obra. Parabéns ao nosso singular pintor Cantidio.